É muito difícil, se não virtualmente impossível, achar um cientista da área biomédica que defenda que dá para fazer pesquisa sem o uso de animais de laboratório.
Uso de cães beagle em testes de remédios vira alvo de protestos
Os argumentos pela continuidade dos estudos com animais são simples. Há uma diferença grande entre o comportamento de células isoladas numa placa de vidro e o que acontece "in vivo", ou seja, num organismo com todas as suas partes interagindo.
Além disso, embora ratos, cães e porcos não sejam idênticos a pessoas, eles compartilham uma enorme bagagem biológica com os humanos.
Finalmente, é claro que ninguém quer correr o risco de desencadear efeitos colaterais catastróficos em pessoas sem um teste preliminar.
Comitês de ética em pesquisa do mundo todo exigem, por exemplo, que os animais sejam anestesiados durante procedimentos dolorosos e, claro, quando são sacrificados.
Anda crescendo, além disso, a movimentação de cientistas para que a alimentação desses animais seja mais balanceada e para que possam brincar e interagir com companheiros de espécie.
A motivação não é altruísta. Há indícios de que roedores de laboratório "normais" são, na verdade, obesos e estressados, o que interfere nos resultados das pesquisas.
A ironia é que as últimas décadas de estudos sobre o comportamento animal encurtaram o suposto abismo mental entre seres humanos e outros mamíferos -além de aves e até de polvos e lulas.
Ao menos do ponto de vista das emoções mais básicas -medo, tristeza, afeto, alegria e, em alguns casos, até a capacidade de ficar de luto por um ente querido- a semelhança entre nós e eles está mais do que comprovada.
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
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