Direito de Resposta ao Doutor em Zooiatria

21/07/2015 13:48

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Direito de Resposta ao Doutor em Zooiatria

O Doutor em Zooiatria conhecido como senhor Josélio Andrade Moura, escreveu um texto veiculado publicamente intitulado “ZOOTECNISTA: Ingratidão manifesta”, que em princípio nem deveria tomar conhecimento e dar relevância dado o desnível nos achismos, manipulação infundada de conceitos, prepotência e arrogância. Porém, ato contínuo, trata-se de um pensamento imperante em alguns oportunistas de plantão que merece um direito de resposta pública com a responsabilidade de colaborar em reparar os erros e pressupostos mal intencionalmente colocados para desqualificar a Zootecnia e a Associação Brasileira de Zootecnistas, bem como, procurar ameaçar os Zootecnistas mais desavisados ou os mais jovens. Lamentavelmente, também buscou desqualificar dignos representantes no Congresso Nacional, mas, neste âmbito a resposta será outra!

Como douto conhecedor como se julgou o senhor Josélio sobre estratégias educacionais, história legal da regulamentação da profissão de Zootecnista no Brasil, exercício profissional e os movimentos atuais de emancipação da Zootecnia e dos Zootecnistas brasileiros, com ênfase na tramitação do PL 1016/2015 de autoria da excelentíssima Senhora Deputada Federal Sra. Júlia Marinho, PSC-PA, faz-se necessário alertá-lo em sua ignorância sobre os temas tratados de forma que não haja ressonância maligna em suas elucubrações para mais do que já promoveu.

“A Zootecnia é a ciência aplicada com contornos tecnológicos mais profusos em sua raiz profissional que promove a adaptação econômica do animal ao meio e deste ao animal”. Este conceito evoluiu nos últimos 170 anos e não no que se ensinou no meio século passado como pensa o senhor Josélio. Ultrapassou em muito que se circunscreve para as profissões, ciências e tecnologias que teimam desenvolver conteúdos de produção animal baseado apenas nos olhares simplórios e superficiais tanto para o animal em sua individualidade quanto para o ambiente onde só percebem adversidades. O domínio da interação genótipo-ambiente permitiu muito mais que uma simples réstia da própria palavra Zootecnia, fenótipo e genótipo como colocou eu sua verborreia o senhor Josélio. Muito se evoluiu em produção e produtividade animal desde a década dos anos 70 do século passado! A única novidade que de fato ocorreu no panorama das ciências e tecnologias relativas à produção animal brasileira neste período, desculpe à modéstia, mas foi o desenvolvimento e à aplicação em essência da Zootecnia por Zootecnistas que se traduziu em melhoramento animal absolutamente científico e estratégias de nutrição, alimentação e manejo pautadas no refinamento cuidadoso da adaptação econômica do coletivo animal em seu próprio meio e da remediação das condições do ambiente para maior expressividade fenotípica dos animais! Tais tecnologias e preocupações, em detalhe, estão muito além do conceito hoje em modismo de bem-estar animal. Nunca se fez Zootecnia sem atenção à qualidade e conforto ambiente para os animais. Embora aparentemente seja um processo biológico a ser controlado, torna-se matemática pura desde o planejamento da produção até as medidas mais técnicas de ajustes da gestão dos produtos, processos e do negócio! E de matemática, os Zootecnistas entendem!

A razão de Octávio Domingues, Patrono da Zootecnia brasileira, em propor mudança radical e propositiva do que se fazia até então de desenvolvimento acadêmico, científico e tecnológico relacionados à produção animal foi à criação de um curso de graduação em Zootecnia no Brasil para resolver problemas que a Veterinária e a Agronomia reconhecidamente não davam conta e continuam não resolvendo, dado o distanciamento de suas formações acadêmicas em campos dos saberes exigidos para entender-se como controlar o fenômeno adaptativo e seu efeito na economicidade da criação dos animais domésticos. As matrizes curriculares dos cursos de graduação em Medicina Veterinária são privadas de conhecimentos e bases de Botânica, Fisiologia e Taxonomia Vegetal, Ciências e Fertilidade dos Solos, Química Analítica, Bioclimatologia, Agrostologia e Pastagens, Cálculo e Álgebra linear, Física, Desenho, entre outros tantos conteúdos programáticos estruturantes em cursos de Zootecnia. A Agronomia não possui os aprofundamentos necessários em Morfofisiologia dos Animais Domésticos, Microbiologia Animal, Bioquímica e Metabolismo Animal, Bioclimatologia Animal, Nutrição e Alimentação Animal, Manejo Animal, seguindo uma lista imensa de conteúdos ou disciplinas não desenvolvidas nos respectivos cursos de graduação.

A despeito dessas ausências curriculares, não se desmerecem essas formações aqui posicionadas, ambas são importantes para o país e para o Agronegócio e possuem sua própria complexidade naquilo que se definem em seu principal perfil acadêmico. Meu testemunho da capacidade profissional de Veterinários e Agrônomos é o oposto do que pensa o senhor Josélio no tocante à Zootecnia e aos Zootecnistas que procurou formas de diminuir sua importância e significado. Médicos Veterinários da atualidade são os mais preparados para intervir com competência no fenômeno “doença” dos animais, apoiando com medidas preventivas, clínicas e cirúrgicas promover um status integral e amplo do conceito de saúde. Mas, não atuam em “promoção à saúde” independentemente, uma vez que, se trata de um conceito multi setorial muito mais abrangente e complexo do que pode atuar isoladamente só um grupamento profissional. Sabemos também que há muitas vertentes profissionais da Medicina Veterinária que são nobres e essenciais para a Sociedade. Porém, repetimos, não há hegemonia nas lidas com o animal e seu meio, nenhum profissional neste contexto realiza nada sozinho! Os Engenheiros Agrônomos da atualidade, por sua vez, são os profissionais mais capazes de melhor gerir os conhecimentos para fomentar as tecnologias de produção vegetal e suas cadeias produtivas, embora também não realizem este trabalho autonomamente no amplo senso!

Na crítica que diz respeito à discussão em pauta os mais conceituados cursos de Medicina Veterinária e de Engenharia Agronômica ou Agronomia contemporâneos não incluem, nem podem incluir por razões óbvias, quando muito, mais que um 12% do total da sua carga horária formativa de conteúdos programáticos e disciplinas que permeiam os conhecimentos necessários para a formação de um Zootecnista. Isto é um fato abstraído em estudos e comprovações simples das matrizes curriculares de ofertas de cursos atuais. A maioria dos cursos de Agronomia e de Veterinária espalhados em todos os rincões deste país oferecem conteúdos teóricos genéricos em apenas duas a três matérias (Zootecnia Geral e Zootecnia Especial) que podem se desdobrar em umas poucas disciplinas relativas à proximidade com a área do conhecimento da Zootecnia, e ainda assim, defende-se conceder a este egresso os mesmos direitos e a titulação irrestrita de um Zootecnista? Isto não é só injustiça é uma aberração que só pessoas como o senhor Josélio pensam que deve continuar! Depois disso ainda me vem com argumento que o mais fundamental é a educação continuada? A educação continuada é fundamental em qualquer área desde que o egresso tenha as bases necessárias para implementá-la! Se defendêssemos que o Zootecnista ao receber conceitos teóricos de promoção à saúde animal, como na verdade os possui com os conteúdos de microbiologia, parasitologia e zoologia geral e higiene e profilaxia animal (para ficar nesses embora haja outros conteúdos e disciplinas de suporte nas matrizes curriculares de cursos de Zootecnia), e depois disso em um processo de educação continuada este profissional poderia muito bem assistir autonomamente programas de prevenção de doenças nos rebanhos, o que diria o senhor Josélio?

Ainda para melhor esclarecer ao senhor Josélio, informo-lhe que os cursos superiores em Zootecnia brasileiros, que se correspondem ao Engenheiro Zootecnista (como na Argentina, Equador e Perú, restringindo-nos no exemplo à América do Sul) assim titulados em muitos países do mundo ou mesmo Bacharéis em Zootecnia, como no Brasil e Colômbia, são cursos de graduação plena e conforme rezam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) promulgadas pelo Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação através da Resolução no 4 de 02 de fevereiro de 2006, os mais de 110 cursos existentes no Brasil possuem cinco anos de duração com as mesmas exigências e complexidades dos demais cursos de graduação das ciências agrárias e afins.

O senhor Josélio quis dar a entender em seu texto que os cursos de Zootecnia no Brasil foram criados a partir da inspiração dos cursos superiores de curta duração, como os atuais cursos de graduação tecnológicos, ou mesmo de nível médio, instituídos para cobrir deficiências de atividades de baixa complexidade e domínios de campos dos saberes restritos que não eram apropriadas ao exercício das outras profissões das ciências agrárias que ele entende como de formação generalista ou abrangente. Fez recorte à sua conveniência das justificativas gerais da propositura da Lei 5.550/68 que criou e regulamentou a profissão de Zootecnista no Brasil, mas, não entendeu que embora se registre antecedentes de ensino médio relativo a formações com conteúdos de Zootecnia, tais fatos foram incluídos como forma de argumentar a importância do ensino técnico independente na área. Porém, a Lei foi elaborada para criação e regulamentação de um curso superior! Fica notório e claro que o senhor Josélio manipulou as informações ao seu gosto e não sabe nada de Zootecnia e muito menos de planejamento e organização curricular. Ainda mais quando copiou uns pensamentos acertados sobre educação e procurou colar em seu desarranjo, mas, o resultado foi uma tortuosa elaboração de alguém transtornado e ensandecido em desqualificar a Zootecnia. Recomendo a leitura das DCN e ganhar com isso algum conhecimento a mais de boa qualidade!

Por fim, fica muito evidente que os Deputados Federais Médicos Veterinários Onyx Lorenzoni, DEM-RS e Domingos Sávio, PSDB-MG, tiveram a descuido de contar com assessores que pensam como o senhor Josélio, ao apresentarem voto em separado pela rejeição do PL 1016/2015 para tentar aniquilar a proposta parlamentar em apreço. Ora, qual o cerne do argumento dos eminentes deputados e também do senhor Josélio? Insistir que a Zootecnia quer sorrateiramente usurpar reserva de mercado para “abraçar com as pernas” a atividade na produção animal que também é de atuação de outras profissões agrárias. Este ingênuo argumento é uma falácia. Não é nada disso que está sendo proposto! É uma mentira deslavada essa forma de apresentar as contrarrazões ao PL 1016/2015, que só tem a intenção de provocar forças reativas. O que sim se defende são duas questões centrais: (1) extinguir a dupla titulação de Médicos Veterinários e Engenheiros Agrônomos também como Zootecnistas, preservando a individualidade e marcos regulatórios das profissões citadas e (2) defender que a responsabilidade e supervisão técnica de empreendimentos que lidam com produção de rações e alimentos manufaturados para animais e àqueles que desenvolvem e aplicam a ferramenta do melhoramento genético e adaptabilidade ao ambiente criatório sejam privativas do Zootecnista. Não se está impedindo que outros profissionais até labutem simultaneamente nessas subáreas, apenas não devem responder tecnicamente pelo empreendimento. A definição dessas responsabilidades técnicas é uma questão de princípio formativo, de identidade profissional própria do Zootecnista e de proteção da Sociedade já que tanto o Médico Veterinário quanto o Engenheiro Agrônomo não se qualificam para tais misteres podendo criar sério dano social. Quais as razões do Zootecnista ter uma profissão regulamentada como o é pela Lei 5.550/68? Não são justamente pelas definições claras e precisas de suas funções precípuas e insubstituíveis por outras profissões, artes ou ofícios?

É muito leviano dizer que os Zootecnistas querem para si o que não dão conta nem intelectualmente nem quantitativamente para arcar com as demandas do mercado de trabalho. O que está desenhado no PL 1016/2015 como legítima privacidade profissional do Zootecnista representa uma redução do que hoje já possuem os Zootecnistas e que com seu efetivo de mais de 35.000 Zootecnistas brasileiros e os mais de 3.500 jovens Zootecnistas que se formam a cada ano são mais que suficientes para resolver.

Por último, se revela hipócrita a finalização do texto do senhor Josélio quando diz que os Zootecnistas foram sempre tratados com fidalguia, respeito e distinção! Certamente, procura ignorar o senhor Josélio as frequentes exclusões de concursos públicos que Zootecnistas são privados em realizar em campos de sua própria área de domínio, impedidos por mero corporativismo de quem não tem nem valor de se expor à competição. Ignora o senhor Josélio inúmeras resoluções e instruções normativas de órgãos públicos que excluem Zootecnistas de suas competências e de responsabilidades técnicas geradas assim sem nenhuma argumentação convincente ou debate democrático, criando dificuldades para a empregabilidade desses profissionais. Não bastasse as campanhas odiosas e covardes que se empreendem não deve dar a mínima o senhor Josélio as incontáveis ocasiões que os Zootecnistas sofrem o escárnio e a tentativa de humilhação por declarações e ações de preconceito e de arrogância como fez o próprio e eminente Doutor em Zooiatria que aqui repudia-se! Qual é a ingratidão manifesta que o senhor Josélio se refere? Que fique claro caro senhor, a Zootecnia é dos Zootecnistas! Não venha com pretensas ameaças porque não somos um bando de aventureiros e sabemos exatamente a dimensão do que estamos pleiteando e conquistando: respeito e valorização profissional!

Enfim, depois de responder a algumas das questões das que entendi como fundamentais espero que pessoas como o senhor Josélio sejam mais respeitosos e responsáveis quando grafarem textos desta natureza que em nada colabora com a edificação de boas relações Inter profissionais e desdenha as aspirações legítimas dos Zootecnistas do Brasil.

Walter Motta Ferreira
Antes dos títulos, um velho Zootecnista entusiasmado.

 

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