Orientação técnica e planejamento são essenciais para sucesso da fertilidade dos solos

24/08/2016 14:13

CCPR

Adubos ou fertilizantes são utilizados como fontes de nutrientes e suprem as necessidades nutricionais da planta. Os fertilizantes podem ser aplicados tanto em pastagens quanto na lavoura


Gilson de Souza


Para assegurar a produtividade planejada e evitar prejuízos que podem aumentar significativamente o custo da produção, a lição número um para não errar no manejo de solos é seguir as recomendações técnicas. 

Na Fazenda Buriti, localizada em Bom Despacho (MG), município a 141 Km de Belo Horizonte, essas orientações são cumpridas à risca para garantir o fornecimento de pasto, silagem de milho e cana picada hidrolizada ao rebanho criado em sistema semiconfinado. 

Uma vez por ano, no mês de junho, é feita a análise de solo e com o resultado em mãos é realizada a calagem, que ocorre três meses antes do preparo da terra para o plantio. 

O plantio do milho ocupa uma área de 18 hectares e é realizado na primeira quinzena de novembro, conta o produtor Ronaldo de Souza Queiroz. “Utilizamos no momento do plantio a adubação mista com nitrogênio, fósforo e potássio com micronutrientes e 25 dias após a germinação da planta é feita a adubação nitrogenada de cobertura.” 

Nos sete hectares de cana-de-açúcar é realizada uma vez por ano, nas primeiras chuvas, a fertilização de cobertura com nitrogênio e potássio. 

Já a área destinada aos piquetes rotacionados, que totaliza 48 hectares, é adubada de novembro a março. “Temos 48 piquetes, com taxa de lotação de cinco animais por hectare e permanência de um dia. Quando o lote sai do piquete, a área é adubada no dia seguinte e este procedimento se repete, em média, três vezes durante período de produção, que vai de novembro a março”, esclarece. 
 

Para que servem


Os adubos ou fertilizantes são compostos químicos - minerais ou orgânicos, naturais ou sintéticos - utilizados como fontes de nutrientes e têm como função suprir as necessidades nutricionais da planta. 

Os fertilizantes utilizados no Brasil podem ser aplicados tanto em áreas de pastagem quanto de lavoura. O que varia, diz David Vilas Boas de Campos, Doutor em Ciência do Solo e pesquisador da Embrapa Solos, é a recomendação para cada cultura ou pastagem, que vai determinar o tipo de fertilizante, a quantidade, forma e a época mais apropriada para a aplicação. 
 

Tipos e aplicação


Entre os nutrientes mais utilizados pelos agricultores brasileiros estão os fertilizantes nitrogenados (ureia e sulfato de amônio), fosfatados (superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP, DAP e os fosfatos naturais) e os potássicos (cloreto e sulfato de potássio). O mercado também oferece os fertilizantes formulados NPK, desenvolvidos para atender o fornecimento de nitrogênio, fósforo e potássio. 

A necessidade de cálcio e magnésio geralmente é suprida no momento da calagem, a partir da utilização de calcário. Já o fornecimento de enxofre consegue ser atendido com a utilização de sulfato de amônio ou superfosfato simples, ou pela aplicação de gesso agrícola, especialmente em áreas de pastagem. “Em relação aos micronutrientes, o produtor deve ficar atento principalmente à deficiência de zinco e cobre, comuns em pastagens de solos ácidos e com baixos níveis de matéria orgânica”, destaca Campos. 

O pesquisador explica que cada fertilizante tem a função de fornecer o nutriente de forma adequada para ser absorvido pelas plantas e lembra que por serem essenciais, “sem eles o vegetal não consegue crescer e completar seu ciclo.” 

O proprietário da fazenda Buriti exemplifica o que ocorre na prática: “Sem adubação não tem colheita nem pastagem porque os nutrientes presentes no solo não são suficientes para atender à demanda de um sistema intensivo de produção de leite a pasto. Às vezes acontece de o bico da adubadeira entupir em uma das linhas de plantio e o resultado fica muito claro porque enquanto uma planta está com dois metros de altura, a outra fica com 40 ou 50 centímetros”, compara Queiroz.

Complementando o produtor, Campos diz que em áreas novas ou não adubadas a produtividade das culturas pode ser muito baixa, e se a cultura for muito exigente não haver produção. Segundo ele, na cultura do milho, por exemplo, é comum encontrar produtividades abaixo de uma tonelada de matéria seca por hectare, enquanto a média nacional está próxima a 5 ton./ha, e nas áreas bem manejadas superar 8 ton./ha. 

Entre os tipos utilizados, destacam-se a fertilização de plantio, cobertura, manutenção, corretiva, em linha, sulco, cova, foliar e via fertirrigação. A aplicação depende de vários fatores, como o tipo e a quantidade do fertilizante escolhido (solubilidade, granulometria), características do solo (textura, teor de matéria orgânica), características da planta cultivada (forma de plantio, fisiologia da planta, morfologia da raiz) e de como ocorre o contato do nutriente com as raízes (se por difusão, fluxo de massa ou por interceptação radicular). E também varia de acordo com o nutriente.

Como o nitrogênio e o potássio são muito móveis no solo, o ideal é que a sua aplicação seja parcelada, com a menor parte no plantio e o restante na cobertura. Já o fósforo, por ter baixa mobilidade, deve ter a quantidade recomendada integralmente aplicada no plantio, de forma localizada em sulcos ou covas. Campos chama a atenção para o fato de que a adubação com micronutrientes deve ser feita com cautela, uma vez que aplicações desnecessárias podem provocar toxidez. “A aplicação de micronutrientes dever ser, preferencialmente, via adubação foliar.”

O pesquisador lembra, ainda, que há diferenças entre as formas de aplicação para o plantio e para a manutenção. A adubação de plantio, como o nome diz, é aquela recomendada no plantio da semente, muda ou caule, e geralmente todo o fósforo é aplicado neste momento. 

Para assegurar o sucesso dessa etapa, é importante que o produtor tome o devido cuidado para que o fertilizante não tenha contato direto com a semente. 

Neste sentido, o adubo deve ser aplicado cerca de 5 cm abaixo ou ao lado da semente ou muda. Já a adubação de manutenção ou de produção é utilizada em culturas de ciclo longo ou permanentes, com uma ou mais aplicações de fertilizantes por ano. 
 

Quando adubar


A aplicação de fertilizantes nas culturas vai acompanhar a época do plantio, geralmente com o parcelamento de uma parte no próprio plantio e o restante em uma ou mais coberturas. 

No caso das pastagens, orienta o pesquisador, para a adubação de manutenção pode-se fazer uma aplicação do fertilizante fosfatado em dose única, no início do período chuvoso, entre outubro e novembro, e os demais fertilizantes, a exemplo dos nitrogenados e potássicos, em até quatro parcelas anuais também no período das águas. “Se a calagem também tiver sido recomendada, o ideal é que a aplicação de calcário seja feita pelo menos três meses antes da adubação”, pontua. 
 

Compra estratégica e custo


Como a maioria dos fertilizantes é importada, sempre que possível o produtor deve antecipar a compra para o período em que considerar o dólar mais baixo. 

Na propriedade de Bom Despacho, Queiroz investe cerca de R$ 120 mil por ano em adubação e, como retorno, consegue uma produtividade média de 45 toneladas de matéria verde por hectare. A cotação é realizada com pelo menos três fornecedores e normalmente a compra ocorre em julho. 

Sobre o custo, o pesquisador da Embrapa Solos faz uma projeção para a adubação de um hectare de milho considerando a utilização do fertilizante misto NPK. “Sendo a recomendação de 150 kg de ureia (a R$ 1.261 a tonelada), 400 Kg de superfosfato simples (R$ 900/ton.) e 150 kg de cloreto de potássio (R$ 1.494/ton), teremos um custo de adubação de R$ 189 com ureia, R$ 360 com superfosfato simples e R$ 224 com cloreto de potássio, chegando ao total R$ 773 por hectare. Mas lembro que este valor é referente apenas à compra de fertilizantes e não considera os custos de aplicação”, estima. 

Segundo Campos, em 2015 a alta do dólar impactou na diminuição do uso dos insumos. Já neste ano, foi observada uma queda nos preços dos fertilizantes e quem antecipou a compra conseguiu melhores negociações. “A entrega de fertilizantes ao produtor bateu recorde em julho”, informa.
 

Outras possibilidades de mercado


Com a proposta de aumentar a eficiência dos fertilizantes, ação estratégica por questões econômicas e ambientais, têm chegado ao mercado produtos com tecnologias agregadas, como os fertilizantes estabilizados, de liberação controlada e os organominerais. “Esses produtos têm baixa participação no mercado brasileiro, mas o interesse dos produtores vem aumentando nos últimos anos. A adoção dessas tecnologias agregadas ainda gera desconfiança por falta de um maior número de pesquisas oficiais que comprovem seus resultados”, opina David Campos. 

Como última orientação, o pesquisador volta a reforçar a importância da assistência técnica. “Para conseguir o retorno esperado, é imprescindível que o produtor siga as recomendações de um engenheiro agrônomo ou de um zootecnista, que sempre serão elaboradas com base nas análises químicas do solo para fins de fertilidade. É importante lembrar, inclusive, que as amostras de solo devem ser representativas da área a ser adubada. Isso porque erros na amostragem podem levar a erros na aplicação dos adubos e corretivos e, consequentemente, a prejuízos na produção e no bolso”, alerta.

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