Professores são capacitados no ensino de Bem-Estar Animal

25/09/2012 21:24

Em todo o mundo, faculdades ampliam a oferta de nova disciplina para os alunos das ciências animais

     Mais de 60% das Faculdades de Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil já oferecem o ensino do Bem-Estar Animal (BEA) como disciplina obrigatória ou optativa em seus currículos. A tendência é de aumentar esse percentual, considerando que esta nova ciência vem se consolidando como essencial na formação dos profissionais.

O conceito decorre das comprovações científicas sobre a capacidade de senciência dos animais, especialmente os mamíferos. Assim como os seres humanos, eles têm sentimentos de dor, medo, prazer, alegria e exigem tratamento baseado no respeito e na proteção. Também requerem manejos que não provoquem dor ou sofrimento físico ou psicológico, principalmente, no caso dos animais de produção que fornecem alimentos para as sociedades humanas e muitos deles ainda são submetidos a procedimentos cruéis.

 

Parceria

    Um dos meios que contribuem para a ampliação do ensino de BEA é o Programa Conceitos em Bem-Estar Animal, lançado em 2003 pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), em parceria com a Universidade de Bristol, na Inglaterra. O programa objetiva facilitar o ensino da disciplina para os alunos da Medicina Veterinária, Zootecnia e demais ciências animais.

    Nos últimos anos, o conteúdo foi atualizado de forma a refletir os avanços da ciência de BEA, com inclusão de novos módulos. Na semana passada, o programa foi ministrado para um grupo de professores da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece), onde já existe, desde o ano passado, a oferta da disciplina optativa para os alunos. Porém, segundo o diretor da Favet, professor Célio Pires Garcia, a partir de 2014, a disciplina passará a ser obrigatória.

    "Hoje, a palavra de ordem no setor produtivo é Bem-Estar Animal. Não se pode mais pensar em gerar produtos de origem animal sem pensar nisto, em todas as fases produtivas, desde o nascimento, as instalações, alimentação, saúde, transporte, ao abate humanitário", afirmou ele.

    De acordo com a gerente de programas veterinários da WSPA, Rosângela Ribeiro, uma das palestrantes do workshop realizado na Favet, em todo o mundo, as grandes universidades já acompanham esta tendência.

    Ela disse que a WSPA já promoveu, desde 2003, mais de 500 workshops sobre o tema em diferentes países. Mais de 850 faculdades utilizam os recursos de ensino disponibilizados pela entidade em todo o mundo.

    O material didático consta de um CD com 34 módulos que podem ser aplicados em sala de aula. Os módulos se dividem em quatro categorias: Ciência do Bem-Estar Animal, com avaliação, indicadores fisiológicos e comportamentais, manejo e alimentação; ética; aplicação da ciência do BEA aos animais de produção, de companhia, de trabalho, silvestres e utilizados em pesquisas e entretenimento; e animais e sociedade, com informações sobre legislação, ONGs, educação humanitária, religião, guerra e eutanásia.

    Rosângela Ribeiro destaca que esta nova área científica é interdisciplinar, porque demanda conhecimentos em ciência, ética e legislação. O workshop é introdutório e os professores podem fazer adaptações em sala de aula, considerando a realidade de cada cidade, estado ou país. No Brasil, com o evento na Uece, já foram promovidos 18 workshops para os docentes.

    Ela avalia que os profissionais da Veterinária, da Zootecnia de demais ciências animais são peças-chave na disseminação do conceito e prática em BEA, servindo como multiplicadores do conhecimento a partir do ensino e em toda a sociedade.

    Aponta que os mercados de produção e consumo, como o europeu, já estão atentos ao tema. Já existem legislações internacionais especialmente para os setores de exportação.

Produtividade


    Diretivas europeias definidas a partir de 2008, com vigência neste ano, apontam para as práticas em bem-estar animal, no que se refere ao transporte, produção e abate. "Existem vários trabalhos científicos que comprovam que os animais com melhor bem-estar apresentam mais produtividade", defende, observando que, em um primeiro momento, o setor produtivo vai requerer maiores investimentos para adequação de manejos e instalações.

    Mas depois, os custos tendem a reduzir, até mesmo porque já identifica-se um mercado consumidor crescente, disposto e pagar um preço maior por produtos originários de práticas que não causaram dor ou sofrimento aos bichos.

VALÉRIA FEITOSA
EDITORA 
 Fonte: Diário do Nordeste

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