Uma cobra assustou os trabalhadores do Porto de Paranaguá na manhã desta sexta-feira (29). Escondida sob um palete e entre caixas do navio grego “Danae”, a suposta naja se armou e pulou do convés da embarcação indo em direção ao Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP).
O navio grego atracou em Paranaguá na última segunda-feira (25) e tinha uma manobra de desatracação e saída marcada nesta sexta-feira, mas o procedimento foi adiado e deve acontecer somente durante a madrugada deste sábado (30). Segundo a Administração de Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), o navio, que transportava farelo de soja, chegou de Singapura, na Ásia, e estava em território brasileiro há 15 dias, antes de atracar.
O caso ganhou repercussão quando um morador da região alertou a população por meio de redes sociais. “Tomem muito cuidado o pessoal que mora nas imediações da costeira pois se trata de uma cobra muito agressiva [sic]”, alerta Tiago. Procurado pelo Paraná Portal, o jovem informou que o pai trabalhou no navio nesta sexta e flagrou o momento em que a cobra saiu do convés e se jogou no mar, mas pediu que os nomes não fossem divulgados para preservar o familiar. “Ele me ligou avisando logo que ela pulou na água”, completa.
Segundo o zootecnista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rogério Ribas Lange, o transporte acidental de cobras e serpentes em automóveis e trens são comuns, mas é raro que isso aconteça em navios. De acordo com Lange, as cobras desta espécie são parentes da cobra coral brasileira. “Existem mais de 20 tipos e de vários portes de cobras naja e todas altamente peçonhentas”, diz. O habitat das najas são na África e na Ásia e isso pode ser uma adversidade caso alguém seja picado pelo animal. “Se efetivamente for uma naja isso é um problema, esses animais são agressivos. Caso alguém seja atacado por ela, não existe soro antiofídico para essa espécie no Sistema Único de Saúde (SUS). Temos soro apenas para espécies nativas”, alerta.
De acordo com o herpetólogo Sergio Morato, as najas são comuns dentro de terminais portuários no Oriente Médio. “Ela vai procurar alimento no dentro porto, comendo ratos e pode acabar dentro de uma embarcação”. Questionado sobre a adaptação do animal no ambiente urbano, o especialista afirma que é um animal extremamente versátil. “São animais que vivem em regiões desérticas e conseguem se adaptar ao clima.”
Morato analisou a foto da cobra, que supostamente seria a mesma que estava no navio, e constatou que trata-se de uma Caninana, espécie local e não-peçonhenta. Segundo ele, as duas cobras são similares em coloração e no tamanho. “Geralmente, elas são pretas com traços amarelos e podem chegar a 3 metros de comprimento”, diz. “Se o pessoal do navio grego viu a cobra, pode ter confundido com uma naja.” De acordo com o especialista, a serpente brasileira também “fica armada, levanta e pode dar botes”, mas não descarta a possibilidade de que ambas estejam próximas ao Porto de Paranaguá.
Segundo Sergio Morato, o caso de aparições de animais exóticos no Porto de Paranaguá é comum. Em 1993, o especialista e colegas receberam um lagarto africano que foi capturado no local. Em outras situações, ele também recebeu ligações sobre a aparição de animais diferentes no porto.
Para o especialista, a serpente não representa um risco para a biodiversidade local. Porém, existe a possibilidade do animal invasor ser fêmea e estar em gestação. Neste caso, se o animal se instalar na Mata Atlântica, existe a chance de adaptação e reprodução.
Fonte: Paraná Portal
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